DESOCUPADO  LEITOR:

DA RIQUEZA  DA  MULTIPLICIDADE  NA  FICÇÃO  DO  QUIXOTE[i]

Esteban Reyes Celedón (UFRJ)

[1] O real nos dá a verdade (única); o realismo nos presenteia com o verossímil (múltiplo). Consideramos a riqueza da ficção do ponto de vista da sua intencional multiplicidade, em particular no Engenhoso Fidalgo Dom Quixote da Mancha, do escritor espanhol Miguel de Cervantes Saavedra. O verossímil sempre é mais do que a verdade, pois carrega em si os vários possíveis (que segundo Leibniz são infinitos) de uma ficção. Já no início (as duas primeiras palavras) do Prólogo ao Quixote, Cervantes nos joga de cara na multiplicidade do verossímil: Desocupado leitor.[ii] Encontramos um adjetivo que tanto pode fazer referência a um leitor superficial, quanto a um minucioso estudioso. Desocupado é aquele que está livre, mas, livre para quê? Pode ser simplesmente para ler e se divertir sem compromisso, como também, para ler com muita atenção e desvendar os vários prováveis da história. Assim, o Quixote tanto é uma obra: para o público em geral, quanto para os especialistas; para o povo e para o culto; para o semi-analfabeto e para o bacharel. Cide Hamete Benengeli pede que “se lhe dêem louvores, não pelo que escreve, mas pelo que deixa de escrever” (II, 44); e o próprio Dom Quixote profetiza “assim acontecerá com minha história, que precisará talvez de comentário para se entender” (II, 3).

Sem dúvida o Quixote nos diverte, mas, se queremos realmente entendê-lo, precisamos dos comentários. Por um lado, nosso trabalho inspira-se e fortalece-se em e com vários estudos de comentadores à obra de Cervantes; por outro, ele próprio é um comentário que pretende explicar alguns “sucessos” que aconteceram com Dom Quixote. Mais especificamente, trabalharemos com três supostos “enganos”: a luta contra os desaforados gigantes (I, 8), o encontro entre o exército do Imperador Alifanfarrão e o do seu inimigo de Pentapolim do Arremango Braço (I, 18), e o elmo de Mambrino (I, 21). Nossa intenção é demostrar que não há “engano”, já que não há verdade, e sim pontos de vista diferentes[iii], todos eles verossímeis.

[2] Pelo que já é conhecido foi o filósofo neoplatônico Plotino (205-270) quem pela primeira vez falou em Ponto de Vista. À diferença do ponto geométrico, que tem localização, o Ponto de Vista, filosófico, está ligado à contemplação e é alguma coisa como um reflexo, ou seja, é muito mais visão do que ponto.[iv] Retomando esta idéia, Leibniz (1646-1716) cria o conceito de mônadas, que seriam expressões diferentes de uma mesma realidade total, o Mundo, um Ponto de Vista, reflexo do universo a partir de uma perspectiva (LEIBNIZ, 1983). As mônadas são substâncias simples para Leibniz, e cada uma delas é diferente de todas as outras; conseqüentemente, cada Ponto de Vista é diferente do outro; em outras palavras, cada um vê, ou reflete, o mesmo mundo, ou parte deste, de uma forma diferente.

[3] Passando para o campo da antropologia, segundo o professor Viveiros de Castro, para os ameríndios “é sujeito quem tem alma, e tem alma quem é capaz de um ponto de vista” (VIVEIROS DE CASTRO, 2004, p. 236). O antropólogo retoma Leibniz (através de Deleuze) quando afirma que “o ponto de vista está no corpo” (VIVEIROS DE CASTRO, 2004, p. 240), definindo corpo como “um conjunto de maneiras ou modos de ser que constituem um habitus” (são os afetos).

Viveiros de Castro analisa o encontro cultural entre europeus e ameríndios nos primeiros anos da colonização.  Os espanhóis reconheciam o corpo do ameríndio como semelhante ao seu; a questão era a alma, saber se esse corpo tinha, ou não, alma (é homem ou animal?). Para os ameríndios a questão era o corpo (o europeu é homem ou espírito?).[v] É por isso que o espanhol e seus descendentes se perguntam se Dom Quixote é racional ou louco (homem ou animal?). A maioria responde “é um louco”. Já para os ameríndios e seus descendentes (entre os quais eu me incluo) a questão é saber se Dom Quixote é corpo ou alma? (homem ou espírito?). A resposta: é alma, não corpo.

Para os ameríndios, “Todos os seres vêem (‘representam’) o mundo da mesma maneira – o que muda é o mundo que eles vêem” (VIVEIROS DE CASTRO, 2004, p. 239). Todos vemos as coisas da mesma maneira, mas, as coisas que cada um vê são outras. Todos vemos comida e lixo, aventura e perigo, assim como todos sentimos coragem e medo. Só que, o que para nós é lixo para o urubu é comida, e, o que é comida para nós é lixo para outros animais; onde o corajoso vê aventura, o medroso vê perigo; onde Dom Quixote vê gigantes, Sancho vê moinhos de vento.

[4] No campo científico, o Biólogo chileno Francisco Varela foi quem provou, na sua tese de doutorado, pela primeira vez, que aquilo que vemos depende muito mais de nós mesmos do que do objeto visto. Em outras palavras: vemos com os olhos, mas enxergamos (percebemos) com o cérebro. Por isso é tão certa a afirmação: tem pai que é cego. Temos uma tendência a enxergar aquilo que nos interessa; nosso olhar é seletivo (assim como o nosso ouvido), vemos o que podemos ver, o que conseguimos reconhecer, o que esperamos ver.[vi] Dado isto, é obvio que Dom Quixote vai enxergar um castelo e o guloso Sancho uma venda (o Cavaleiro está à procura de aventura, Sancho de comida).

[5] Levando em conta estes três pensamentos sobre ponto de vista (filosófico, antropológico e científico), passaremos a analisar os três episódios do Quixote antes mencionados.

A luta contra os desaforados gigantes (I, 8). O narrador nos diz que os protagonistas “descobriram trinta ou quarenta moinhos de vento”. Porém, Dom Quixote diz ver “desaforados gigantes” e só Sancho, assim como o narrador, afirma que há “moinhos de vento” e não gigantes. Dom Quixote, não dando ouvidos ao medroso escudeiro[vii], acomete contra os gigantes “em fera e desigual batalha”. Eis uma grande aventura, protagonizada pelo maior dos cavaleiros.

Como na ficção não há verdade - a não ser a verdade da ficção, da qual Cervantes abre mão ao valorizar, desde o início da obra, a multiplicidade da ficção - não cabe aqui, e em nenhum outro lugar da obra, perguntar-nos quem está com a verdade ou quem está enganado (com relação à visão). Devemos perguntar-nos se os pontos de vista são verossímeis. Se Dom Quixote é o ponto de vista do mundo da cavalaria, é verossímil, e o mais provável, que veja “desaforados gigantes” aos quais tem de combater. Se Sancho é um medroso – pelo que diz Dom Quixote e podemos constatar no desenrolar da história -, é igualmente verossímil, e também o mais provável, que não veja “gigantes” e sim “moinhos de vento”, que até são mais apropriados à paisagem de La Mancha do século XVII (mas não à mancha metafórica). Ora, se há alguém que pode estar enganado, esse alguém é o narrador, não pelo que vê e sim pelo que diz. Afirma, no início do capítulo, que “descobriram trinta ou quarenta moinhos de vento”, incluindo como sujeito da oração/ação a Dom Quixote, que nunca reconhece tal descoberta. E o que descobriram os espanhóis quando chegaram a América?

Por último, quem também pode estar enganado somos nós, desocupados leitores, se acreditamos no relato contraditório do narrador ou na visão de um dos personagens, desvalorizando a do outro (que é o que aparentemente faz o narrador). Devemos lembrar que “qualquer perspectiva é igualmente válida e verdadeira”, e “uma representação verdadeira e correta do mundo não existe”.[viii] Segundo Whitehead, a expressão ‘mundo real’ muda de sentido conforme o ponto de vista.[ix]  E para Deleuze, não há ponto de vista sobre as coisas; as coisas e os seres é que são pontos de vistas (DELEUZE, 1991 p. 203). Sendo assim, a questão não é saber como Sancho ou Dom Quixote vêem o mundo, mas que mundo se exprime através de cada um dos personagens, de que mundo cada um deles é o ponto de vista.

[6] O encontro entre o exército do Imperador Alifanfarrão e o do seu inimigo de Pentapolim do Arremango Braço (I, 18). Desta vez o narrador é mais cauteloso e nos diz que Dom Quixote reparou no caminho uma grande poeira; “é levantada por um copiosíssimo exército de diversos e inumeráveis povos”, diz o fidalgo ao seu escudeiro. Ao que Sancho acrescenta “dois devem eles ser, porque desta parte contrária também sobe outra poeirada semelhante”. E prossegue o diálogo entre os dois protagonistas; só algumas páginas à frente, quando a poeirada está bem mais próxima deles, é que Sancho adverte ouvir “balidos de carneiros e ovelhas”. Logo depois, o narrador afirma “e era verdade”. Mais uma vez o narrador está com Sancho e desqualifica as palavras do fidalgo; só que desta vez espera pela confirmação do escudeiro. O Valente Cavaleiro, assim como na outra aventura, atribui ao medo do escudeiro sua cegueira; “um dos efeitos do medo é turvar os sentidos, e fazer que pareçam as coisas outras do que são”, desta vez explica Dom Quixote.

Aqui também devemos perguntar-nos se são verossímeis os pontos de vista dos personagens. Do mesmo modo que na primeira aventura, aqui é verossímil que o Cavaleiro veja dois exércitos (aventura) e o medroso escudeiro veja outra coisa (animais comestíveis). Só que desta vez Dom Quixote dá uma explicação bastante convincente sobre os efeitos do medo; e que hoje é reforçada pela explicação do Biólogo chileno (e até pela psicanálise): acreditamos ver o que não vemos, o que não deixa de ser um artifício inconsciente a favor da nossa sobrevivência (se não reconheço o perigo e não o enfrento, diminuem as chances de ser derrotado por ele).

[7] O elmo de Mambrino (I, 21). “Nisto começou a chover” são as primeiras palavras do capítulo, que descrevem um fato de relevância, que certamente influirá na clareza da visão dos protagonistas de mais um suposto “engano” e singular aventura. Agora, o narrador é ainda mais cauteloso na descrição dos fatos. “Dali a pouco descobriu Dom Quixote um homem a cavalo, que trazia na cabeça coisa que relampagueava como se fora de ouro”. Mas o Cavaleiro - que parece perceber o jogo entre ele, protagonista dos supostos “enganos”, e o narrador -, mais sábio do que o sábio narrador, diz: “se me não engano, aí vem caminhando para nós um homem que traz na cabeça o elmo de Mambrino”. E, para surpresa de todos, Sancho também se mostra cauteloso: “o que vejo... que traz na cabeça uma coisa que reluz”; mas, pelo que continua, parece tratar-se, mais uma vez, de medo à aventura. Chega de tanta cautela, Dom Quixote afirma “é o elmo de Mambrino”, e acrescenta “que tanto desejava” (como dissemos antes, muitas vezes vemos o que estamos preparados ou condicionados para ver).

Contudo, o narrador nos informa que tratava-se de um barbeiro que “trazia a sua bacia de latão”, e, por causa da chuva, para se proteger, levava a “bacia” na cabeça, a qual “resplandecia”. Entretanto, cabe uma ressalva, devemos lembrar que, em relação ao Quixote, “haver sido seu autor arábigo, sendo mui próprio dos daquela nação ser mentirosos” (I, 9). O Cavaleiro dá-nos a sua versão: o elmo caiu em mãos de uma pessoa que só reconheceu o valor do ouro, por isso derretera parte do elmo, o qual ficara parecendo com uma “bacia de barbeiro”. E agora, em quem acreditar? Qual versão? Qual ponto de vista?

Com sua simplicidade, Sancho, para não valorizar nem desacreditar nenhuma das partes, ou talvez por medo, entre “bacia de barbeiro” e “elmo de Mambrino” decide ficar com o “bacielmo” (I, 44). Não, amigo Sancho – diz Unamuno – ou é bacia ou é elmo, depende de quem dele se sirva, isto é, é bacia e é elmo ao mesmo tempo, o que não pode ser é “bacielmo” (UNAMUNO, 1987, p. 127-128). Mais uma vez, a intencional multiplicidade da ficção de Cervantes nos presenteia com várias leituras possíveis, todas elas verossímeis e legítimas. “Bacia” e “elmo”. Mais uma vez é o narrador quem se engana, desta vez por acreditar que uma explicação coerente possa ter mais valor do que outra, a de Dom Quixote, que também é coerente; só que desta vez não se engana sozinho, Sancho lhe faz companhia ao inventar o que não existe: “bacielmo”. Que fique claro que, assim como nos outros dois episódios analisados, o engano não está no objeto percebido. Não há nada de errado em perceber uma “bacia” ou um “elmo”; no mundo de Dom Quixote, que é o mundo da cavalaria, ele vê o “elmo de Mambrino”; no mundo de Sancho, que parece ser semelhante ao mundo do, não muito sábio, narrador, o que se vê é “bacia de barbeiro”. Plotino diria que para poder ver o “elmo de Mambrino” (assim como exércitos, gigantes, castelos, etc.), primeiro faz-se necessário que o olhar se torne cavaleiroso (ou quixotesco).[x]

[8] Após analisarmos estes três episódios, podemos concluir que cada ponto de vista (narrador, Dom Quixote, Sancho e desocupado leitor) tem seu valor de verdade no seu respectivo mundo, e o fato de não coincidirem não é motivo suficiente para desqualificar qualquer um deles – já que cada um deles é independente com relação aos outros -. Todos são verossímeis (ou possíveis), essa é a riqueza da multiplicidade ficcional. O ponto de vista que Sancho reflete é o da simplicidade de um lavrador, o do medo do desconhecido e que, por sua própria ignorância, vê, nos supostos “enganos” do seu senhor, comicidade. Já o ponto de vista que Dom Quixote reflete, que é o mundo da cavalaria, é o das aventuras, muitas vezes trágicas (também há castelos, princesas, gigantes, exércitos, elmo de Mambrino, etc.). Sobre o ponto de vista que o narrador reflete, fica difícil afirmar alguma coisa, já que há motivos suficientes para acreditarmos que seu papel na história é o de nos enganar, nos confundir, o que não deixa de ser positivo, pois nos força a pensar (recordemos que, por ser árabe, é tido como mentiroso; não fala diretamente, lemos uma tradução; há vários narradores; etc.). Por fim chegamos ao ponto de vista que o desocupado leitor reflete – que a esta altura desconfiamos que também seja um personagem criado por Cervantes, à semelhança do narrador arábigo, ou dos outros narradores –. O desocupado leitor está em situação privilegiada, já que pode escolher com qual ponto de vista ficar; ou assumir o seu próprio, diferente dos outros; ou, ainda, ficar com todos eles. Afinal de contas, o próprio Dom Quixote nos autoriza e explica: aquilo que para Sancho parece bacia de barbeiro, para ele (Dom Quixote) parece elmo de Mambrino, e a outro (que bem pode ser o leitor) parecerá outra coisa (I, 25).

Desocupado e atento leitor, ilustre ou plebeu, hipócrita e irmão, a escolha é toda sua.

 

Bibliografia

CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de.       Don Quijote de la Mancha. Edição e notas de Francisco Rico (edición del IV centenario). Madrid: Santillana Ediciones Generales / Real Academia Española, 2004.

__________.              Dom Quixote de la Mancha. Tradução dos Visconde de Castilho e Azevedo. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda., 2002.

DELEUZE, Gilles.                 Le pli. Leibniz et le baroqueParis: Minuit, 1988.  A Dobra: Leibniz e o Barroco.  Tradução de Luiz Orlandi.  Campinas, SP: Papirus, 1991.

HOLANDA, Aurélio Buarque de.      Novo dicionário da língua portuguesa.  Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteia, 1986.

LEIBNIZ.                                Monadología.  Buenos Aires: Aguilar, 1983.

PETERS, F. E.                       Termos Filosóficos Gregos.  Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

PLOTINO.                              Enéada sexta.  Tradução de Fuentes Benot.  Buenos Aires: Aguilar, 1978.

__________                           Tratado das Enéadas. (texto integral de 12 tratados). Tradução de Américo Sommerman.  São Paulo: Polar 2002. 

UNAMUNO, Miguel de.        Vida de Don Quijote y Sancho. Madrid: Alianza, 1987.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo.  “Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena”, in O que nos faz pensar.  Rio: PUC-RIO, 2004. pp. 225-254.

 

Rua dos Douradores, 01 de outubro de 2006.

 


 

[i] Uma primeira versão deste texto foi apresentada no 1º simpósio Internacional de Letras Neolatinas: Painel 29, sala f-121, 15:45h, UFRJ, Quinta-feira, 29 de setembro de 2005.

[ii] As citações, em português, do Quixote se referem à tradução dos Viscondes de Castilho e Azevedo.

[iii] Como explicaremos a seguir, não se trata do “ponto de vista” do senso comum, ou daquele que está no dicionário (segundo Aurélio, ponto de vista pode ser: 3. Fig.  Maneira de considerar ou de entender um assunto ou uma questão).

[iv] Mais do que ponto poderíamos falar em “unidade” (monás para os gregos), que segundo Aristóteles é “substância sem posição”, diferente de “ponto” (stigme) que seria “substância com posição”.  (Peters, 1983, p.146).

[v] “o etnocentrismo europeu consiste em negar que outros corpos tenham a mesma alma; o ameríndio, em duvidar que outras almas tenham o mesmo corpo”. (VIVEIROS DE CASTRO, 2004, p. 241).

[vi] Para dar um exemplo bem cotidiano: dificilmente veremos nosso atacante em impedimento, ou nosso goleiro mexer-se na hora do pênalti, ou que nosso zagueiro fez a falta; e com freqüência acreditamos que o juiz foi comprado pelo outro time (nunca pelo nosso).

[vii] O Cavaleiro diz a Sancho: se tens medo, tira-te daí. Unamuno afirma “Tenía razón el Caballero: el miedo y sólo el miedo le hacía a Sancho y nos hace a los demás simples mortales ver molinos de viento en los desaforados gigantes que siembran mal por la tierra”. (UNAMUNO,1987, p.55).

[viii] Kaj Arhem, citado por Viveiros de Castro. Ibidem. p.238.

[ix] Citado por Viveiros de Castro. Ibidem. p. 243

[x] É impressionante a pertinência de citar Plotino, quando fala sobre o Belo (Enéada I 6):

Mas, se alguém chegar a essa visão ainda mergulhado no vício, sem ter se purificado, ou  se for fraco e em sua covardia for incapaz de ver o maior dos esplendores, então nada vê, mesmo se outra pessoa indicar para ele o que está claramente diante dos seus olhos. Pois é necessário que o olhar se torne semelhante ao objeto que deve ser visto para ser capaz de contemplá-lo. Jamais um olho poderia contemplar o Sol se não fosse semelhante a ele; e jamais uma Alma poderia contemplar a Beleza suprema se antes não se tornasse bela. (PLOTINO, 2002, p.34).

 

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